terça-feira, 10 de maio de 2022

Primavera na serra (I)






Corre o mês de Maio! 

A natureza vibra de vida, qualquer que seja o local onde nos encontremos. Todos os ecossistemas, naturais e semi-naturais, oferecem ao homem o melhor que este ainda não conseguiu poluir, ameaçar ou extinguir. 




Na serra, a Primavera também avança sem fugir a esta regra; bem pelo contrário! 



Iniciamos a nossa expedição pelo primeiro andar da montanha, um pouco abaixo dos mil metros de altitude. Aqui, embrenhados nos bosques mistos de altas e verdes coníferas e de tantas outras caducifólias, também elas adornadas de farta ramagem, retemperamos forças antes de sairmos para a torreira. 



Sentados no solo, de encosto a um dos muitos pinheiros-silvestres (Pinus sylvestris) que por aqui existem e envolvidos por fetos-comuns (Pteridium aquilinum) que atapetam o solo, contemplamos o bosque que nos envolve.

Os compridos troncos dos pinheiros-silvestres e dos abetos (Abies sp.), alinhados e próximos uns dos outros, constituem um apertado filtro à passagem dos raios de luz, promovendo, desta forma, um microclima muito atractivo para diversas espécies animais e vegetais.



Este ensombramento, conseguido mesmo durante as horas em que o Sol está a pique,  permite o surgimento de variados fungos, líquenes e heras, os quais, revestindo os troncos do arvoredo completam a palete de verdes que matizam o bosque.



Neste ambiente de aparente quietude fazem-se ouvir os sons da Primavera. 

Das altas ramagens chegam os cantos insistentes dos machos de diferentes pássaros reclamando os seus direitos territoriais e proclamando ao mundo que já são pais. Os tentilhões-comuns (Fringilla coelebs) e os verdilhões (Carduelis chloris) destacam-se na orquestra do bosque pela forte sonoridade dos seus cantos. 



Menos exuberantes no canto mas sobejamente mais irrequietos, estão os chapins-azuis (Parus caeruleus)  e a trepadeira-comum (Certhia brachydactyla). Os primeiros cabriolando por entre os ramos e as segundas trepando em espiral tronco acima.



O bosque de montanha, embora com uma área reduzida comparativamente à sua extensão do passado, continua a surpreender-nos com criaturas fugazes mas encantadoras. 

Um esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris) surge num alto ramo de pinheiro.  A sua cauda farfalhuda contrasta com a pequenez da cabeça, rodando vivamente em redor. Num relance, atravessa rapidamente o ramo passando para outra árvore próxima e logo de seguida transpondo-se para uma terceira, até desaparecer da vista. Poderá ter descido por um tronco ou mais provavelmente ter entrado nalgum buraco de árvore. 




Embora escondida na toca durante as horas de maior luminosidade, o cheiro característico da urina em locais específicos do bosque adverte da sua actividade durante os períodos crepuscular e nocturno. A raposa (Vulpes vulpes) é outro dos residentes deste local. 

Além de bagas, de roedores e de pequenas aves, base da sua alimentação, aqui encontra também, restos de alimentos dos montanheiros que por aqui passam e se detêm em reconfortantes degustações.

Hoje foi dia de excepção! A tranquilidade do local, uma localização certeira e muita paciência permitiram ver um adulto a sair para caçar em pleno dia.




(continua)



2 comentários:

Mixan disse...

Belo texto. Obrigada!

Álvaro Reis disse...

Eu é que agradeço pelo apreço na leitura do texto!