terça-feira, 5 de julho de 2022

O rio (V)






(continuação)



Face à topografia dos terrenos, o rio vai formando frequentes remansos. As levadas e os ribeiros subsidiários, formam também habitats de águas muito pouco movimentadas. 




Estas águas são especialmente atractivas para os insectos, nomeadamente para aqueles que vivem sobre a água, como os alfaiates (Gerris lacustris).



E se os insectos abundam, os seus predadores também para aqui são atraídos. Inclui-se neste último grupo o cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), que se abriga por entre a vegetação da margem, antes de surgir à vista, sobre alguma pedra do rio.



Imóvel, este réptil, com mais de 200 milhões de anos de evolução e com uma longevidade que pode chegar aos 40 anos de vida, perscruta atentamente tudo o que o rodeia.



Para além de insectos, também se alimenta de outros invertebrados, de anfíbios, de peixes e de plantas aquáticas, submergindo, frequentemente, apenas a cabeça.



Também não é difícil observar, nadando por entre a vegetação, o belo galeirão (Fulica atra). 



Esta ave, de plumagem negra e bico branco, chama ainda mais a atenção quando, ao levantar da água, corre primeiro sobre a mesma durante vários metros.




Mesmo durante as horas de luz intensa, não é impossível observar o mocho-galego (Athene noctua), pousado nalgum poleiro destacado sobre os terrenos marginais ao rio. Esta pequena ave de rapina, com uma dieta variada, é responsável pelo controlo das populações de insectos, anfíbios e répteis.




Após várias dezenas de quilómetros a serpentear por entre serras, colinas e vales, o rio chega à extensa planície húmida, separada da foz por uma escassa meia dúzia de quilómetros. 



Fá-lo, lentamente, como se não tivesse pressa em morrer, depois de uma vida tão extensa, quanto mutante. 

Este término, vai sendo preparado, mediante a salinização crescente das suas águas. A intrusão da cunha salina, produzida em cada maré enchente, repercute-se nas características do ecossistema envolvente ao rio.


Sobretudo no interior das valas e esteiros que o rio, entretanto, originou ocorre a pinheirinha-de-água (Myriophyllum aquaticum), uma espécie invasora proveniente da América-do-sul.




Toda esta superfície encharcada, por onde o rio agora corre, é dominada por extensas manchas de caniço (Phragmites australis), ...



... e de tabúa (Typha latifolia).




Aqui se escondem, alimentam e criam diversas espécies, como patos (Anas sp.) e garças-vermelhas (Ardea purpurea).




No rio, farto de peixe que a maré enchente se encarrega de trazer, pode-se ter a sorte de observar a magnífica lontra (Lutra lutra), nadando de fugida entre as margens. Quando observada a contra-luz, o seu corpo semi-submerso e completamente estendido a deslizar sobre a água constitui um quadro repleto de emoção e beleza.




A tarde, como que se afundando de mãos dadas com o Sol, e tendo já chamado a Lua ...



... parece despedir-se deste rio, descaracterizado e sem a energia de outrora. Deste rio, que muito em breve e placidamente se entregará ao inevitável abraço do oceano. 


Omnipresente, e bem lá no cimo, o cartaxo-comum (Saxicola torquata) é testemunha deste epílogo inadiável!





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