segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Relíquias do passado: o bisonte-europeu

 



Há mil anos, as majestosas florestas caducifólias que cobriam a Europa central albergavam dois emblemáticos e imponentes bovídeos selvagens.

Ao contrário do auroque (Bos primigenius), extinto em 1627, ascendente das raças actuais de bois-domésticos, o bisonte-europeu (Bison bonasus), que em 1919 tinha atingido o limiar da extinção, conseguiu sobreviver até aos dias de hoje. 

Na verdade, o bisonte-europeu vive actualmente em regime semi-selvagem nas míticas e velhas florestas da Europa de leste, após a sua reintrodução, onze anos depois daquela data, a partir de exemplares que viviam em cativeiro.




É, no presente, a maior espécie da fauna europeia, mas sem haver indícios de ter habitado a península ibérica, ao contrário do auroque, amplamente distribuído em Portugal durante o Calcolítico, como o atestam as gravuras rupestres do Vale do Côa. 

De porte semelhante ao do seu parente americano, também ele salvo da extinção, o bisonte-europeu apresenta um comprimento de cerca de 3,5 metros, quase 2m de altura no garrote e entre 800-900 Kg de peso (machos) e menos 300 kg (fêmeas).

É, na verdade, um animal impressionante, quer pelo seu olhar intimidante, quer pela sua compleição maciça. Apresenta uma proeminente bossa dorsal ...



... e uma cabeça robusta, revestida de pêlo mais comprido que o resto do corpo e da qual cai uma extensa barba. 



Os cornos, que são curtos, aguçados e curvados para cima, estão presentes em ambos os sexos. 



Tem como habitat as densas florestas mistas de coníferas e caducifólias (carvalhos, bétulas, amieiros, abetos, salgueiros, pinheiros-silvestres, tílias, ...), com clareiras e solos húmidos, facilmente transformados em lamaçais. 




No penumbroso meio florestal passa facilmente despercebido, dado ser uma espécie tímida e com uma actividade centrada nas primeiras horas da manhã e do entardecer. 




Devido aos inúmeros insectos que procuram a humidade das suas cavidades superiores ...



... e aos parasitas que se alojam na pele, deliciam-se em "banhos" de poeira nos espojadouros que cria pisoteando o solo das clareiras do bosque.




Este ungulado apresenta uma alimentação herbívora diversificada, alimentando-se de gramíneas, rebentos, cascas, ramagens, bolotas, musgos, líquenes e plantas de folhas persistentes.




A espécie vive geralmente em manadas, de dez a trinta exemplares, que se vão reajustando ao longo do ano de acordo com as diferentes etapas da sua biologia. Os velhos machos vivem solitários. 

O cio ocorre entre os meses de Agosto e Setembro. Atingem a maturidade sexual aos 4 anos e podem viver até aos 26 anos.


O seu principal predador ao longo dos tempos foi o homem, que o caçou de forma intensiva e simultaneamente foi destruindo a floresta onde vivia. 

Com o forte impacto da I Grande Guerra Mundial nas populações selvagens, as mesmas ficaram reduzidas a pouco mais de 50 exemplares confinados em zoos. Hoje em dia existem na Europa para cima de 3000 exemplares vivendo em semi-liberdade, uma vez que, sobretudo no Inverno são alimentados pelo homem com feno, de modo a não destruírem as árvores em crescimento, bem como, as culturas agrícolas dos campos em redor. 

Pode-se dizer que, a espécie recuperou bem e que gozava até ao início deste ano do estatuto de "vulnerável". Para que o seu estatuto não volte ao de espécie "em perigo" ou de "espécie ameaçada" será necessário que a gestão das suas populações, distribuídas por territórios da Polónia, Ucrânia, Bielorússia e Rússia, se continue a fazer ao abrigo das recomendações das directivas comunitárias. 

Será que tal estratégia é concretizável face à actual e monstruosa acção de destruição destes territórios, por parte da Rússia?


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