quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Quadros de Outono (III)


 

O arvoredo é, seguramente, o melhor indicador do Outono! 

Esta estação do ano sente-se, de facto, nos parques, nos pinhais, em todo o lado onde cresçam árvores e arbustos que experienciem transformações significativas na sua aparência, textura e cor.

Contudo, é na floresta caducifólia, que esta estação encontra o seu apogeu. Que o arvoredo exprime toda a harmonia e beleza próprias de um meio natural. 

Ulmeiros (Ulmus sp.), carvalhos (Quercus sp.), castanheiros (Castanea sativa), faias (Fagus sylvatica), nogueiras (Juglans regia), bétulas (Betula sp.) e várias outras espécies de grande porte formam, em conjunto, um ecossistema surpreendente, mágico quando por ele nos embrenhamos. 



Devido às múltiplas intervenções humanas, esta floresta caducifólia viu-se modificada pela inclusão de coníferas, como os pinheiros, os cedros e os abetos, transformando-se na denominada floresta mista.



Devido ao elevado porte arbóreo característico desta floresta, a luz solar é filtrada pelas copas, chegando com dificuldade ao solo, condicionando deste modo a implantação de uma flora de menor porte. Face a esta realidade, a floresta caducifólia deve ser encarada como um todo, apesar de se apresentar estratificada, grosso modo, em três patamares. Os estratos arborícola, arbustivo e herbáceo.


Assim, a um nível inferior a este mundo de altas copas, no denominado estrato arbustivo, crescem várias espécies de plantas, as quais formam um intrincado e denso habitat, frequentado por diversas espécies da fauna, nomeadamente invertebrados, répteis, mamíferos, entre outros.




O andar mais baixo do bosque, o estrato herbáceo, é de uma enorme pujança para a manutenção de todo o ecossistema florestal. Aqui e sobretudo quando o solo é húmido, ocorrem grandes tapetes de fetos, que conferem uma beleza sublime ao interior da floresta.




Por baixo destes fetos encontra-se uma enorme quantidade de folhas caídas, formando a denominada manta morta. Esta biomassa vegetal, após decomposição, representa uma importante fonte de nutrientes para a manutenção da vida das árvores, arbustos e fungos da floresta.





É neste mundo, escondido pelas folhas em decomposição, pelas raízes, pelas ervas e pelos musgos, que vivem os decompositores. Bactérias, protozoários, vermes, artrópodes, etc. fecham o ciclo biológico, transformando a manta morta em húmus que irá ser aproveitado como novo alimento para as plantas do bosque.



Os fungos, de formas e aspecto variados, constituem um reino à parte das plantas e animais. Presentes ao longo de todo o ano na floresta, é nesta época que se tornam especialmente visíveis, sobretudo quando emergem do solo sob a forma de cogumelos. Os fungos têm um papel fundamental na decomposição da matéria orgânica morta e na produção de nutrientes.

Muito bonitos, alguns podem-se revelar potencialmente perigosos para o homem, como o Amanita-vinosa (Amanita rubescens) ...


... mas outros, porém, não representam qualquer perigosidade, como é o caso da trombeta-negra (Cantharellus cinereus).







Os líquenes constituem outro belo grupo de seres que ornamentam a floresta. Tanto recobrem os troncos e ramos das árvores, como as rochas do solo. Alguns, como Usnea sp. pendem dos troncos, tal qual, longos cabelos.




O líquen é um organismo simbiótico, frequentemente, de uma alga e um fungo, com um papel decisivo no ciclo dos nutrientes e na regulação da humidade dos substratos onde se encontram implantados. 

Na verdade, a presença deste grupo de seres, não só confere às árvores um belíssimo aspecto cénico, como também, juntamente com os fungos, constituem garantia de uma boa qualidade do ar local. 




Os musgos, essas pequenas plantas que se desenvolvem em densos tufos aveludados, ocorrem no estrato inferior do bosque. Agarrados aos troncos das árvores, mesmo quando estas já se encontram tombadas, apresentam normalmente uma cor verde intensa, como o musgo-sedoso-penado (Homalothecium sericeum).





Os musgos têm a particularidade de captarem muito facilmente a água do solo libertando-a lentamente para a atmosfera. Por esta razão, controlam, quer o encharcamento do solo, quer a humidade atmosférica. 

Com um papel muito importante na formação e estabilização do solo, os musgos constituem-se, também, como um excelente indicador da qualidade do ar e da água.





(continua)

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