quinta-feira, 1 de junho de 2023

A charrela: extinta em Portugal?




              


A perdiz-cinzenta (Perdix perdix) ou charrela, como também é conhecida, é uma espécie que residiu até finais do século passado em regiões serranas do norte de Portugal tendo, a partir de então, entrado na lista das espécies dadas como extintas no país. Valeu para este negro desfecho a falta de gestão cinegética de que Portugal foi pródigo durante muito tempo. 





Há cerca de uma década houve, contudo, um registo de algumas aves avistadas em Trás-os-Montes, o que deixou em aberto a possibilidade de a espécie ainda poder sobreviver em território luso, graças a pequenos núcleos populacionais dispersos pelas ásperas serranias do norte de Portugal.


Independentemente desta possibilidade, são nos bosques e campos raianos do país vizinho que vamos encontrar esta encantadora ave.



Não é fácil detectar esta ave na natureza. Só um olhar atento a poderá descobrir, escondida no interior do matorral.



De silhueta roliça destacam-se, com maior intensidade nos machos, a face e a garganta alaranjadas, bem como, uma mancha castanha abdominal, em forma de ferradura, sob um peito cinza. 



As fêmeas apresentam uma coloração mais suave com a mancha abdominal mais pequena e mais ténue, frequentemente ausente.



Como complemento desta lindíssima libré a perdiz-cinzenta apresenta ainda os flancos estriados de castanho claro e uma cauda de cor ferrugínea.



Frequentando campos de cultivo e espaços abertos com sebes à mistura, esta ave bastante tímida, como aliás, outros elementos do grupo Phasianinae, tem um modo de vida essencialmente terrestre. Quando assustada assume, numa primeira fase, uma postura estática de vigilância...



 ... correndo rápido a esconder-se caso a ameaça aumente de intensidade. Os voos são evitados mas quando acontecem são curtos e próximos do solo, acompanhados por um ruidoso bater de asas.



É uma ave marcadamente gregária e por conseguinte os elementos do bando permanecem muito próximos uns dos outros nas suas deambulações em busca de insectos (no caso dos indivíduos juvenis), sementes (no Verão e Outono) e plantas verdes (no Inverno e Primavera).




A espécie nidifica numa concavidade do solo, forrada por alguma matéria vegetal e dissimulada em redor por ervas mais altas, de forma a camuflar os seus 8 a 23 lustrosos ovos, de cor uniforme, acastanhada ou olivácea, incubados apenas pela fêmea. 



É possível que a espécie venha a reocupar num futuro próximo as serras portuguesas. Não tanto, infelizmente, por alguma acção concertada dos organismos nacionais, sempre ausentes de políticas conservacionistas, mas sim, tal como aconteceu e acontece com outras espécies da fauna selvagem, pela dispersão das populações castelhanas junto à raia.

Que assim seja! 



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