quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Vida para além da morte: os troncos

 






Por entre a multidão de folhas que anualmente revestem a floresta, os sóbrios troncos que já assistiram à viragem de séculos e os contorcidos ramos das manchas remanescentes da primitiva floresta caducifólia portuguesa, constituída por carvalhos, cerejeiras, ulmeiros, castanheiros, freixos, azereiros, azevinhos, loureiros entre outras espécies ...



... deambulam outros tantos seres, também eles numerosos, ... 



... igualmente sóbrios ...




... e de sagaz agilidade.




Na verdade, o estrato arbóreo da floresta de folha caduca, só por si, constitui uma autêntica auto-estrada de vida! 



Enquanto nos píncaros das copas, corvídeos, como a gralha-preta (Corvus corone), repousam à espreita de alguma oportunidade que se lhes afigure certa ...



...nos grossos e enrugados troncos, uma plêiade de aves insectívoras banqueteiam-se com os insectos xilófagos, responsáveis por doenças e morte das árvores, funcionando por isso como controladores naturais destas populações insectívoras e consequentemente contribuindo para a sanidade florestal.


Constatar-se-á que cada tronco, só por si, constitui um verdadeiro mosaico de nichos ecológicos.


Trepadeiras-comuns (Certhia brachydactyla), mimetizadas pela sua plumagem castanha sarapintada, identificam-se claramente pelo seu comprido e encurvado bico, que utilizam à medida que trepam em espiral pelos troncos, para da casca dos mesmos extraírem os referidos xilófagos.




Pertencentes a uma família diferente da espécie anterior, as trepadeiras-azuis (Sitta europaea), com a plumagem dorsal azul-acinzentada e um bico pontiagudo e comprido, apesar de incluírem na sua dieta frutos secos e sementes, também não desperdiçam os insectos xilófagos. E fazem-no de uma forma que a sua parenta não o consegue de todo; explorando os troncos, descendo de cabeça para baixo!    



Também o pica-pau-malhado-grande (Dendrocopus major) é outra das espécies para quem os troncos das caducifólias constituem habitat privilegiado. Fazendo-se ouvir à distância, quer pelos seus estridentes chamamentos, quer pelo tamborilar na madeira do seu forte e aguçado bico ao escavar cavidades profundas, incluem, sobretudo na sua dieta de verão, grande quantidade destes mesmos insectos, que extraem do interior dos buracos.



São também estes atraentes marceneiros florestais que, ao abrirem esses inúmeros orifícios nos troncos, irão disponibilizar alojamento para outras aves, roedores e rapinas nocturnas.




A vaquinha (Dorcus parallelipipedus), um escaravelho-veado de menores dimensões que a sua parente vaca-loura, é uma espécie para quem a floresta caducifólia é imprescindível pois, enquanto adulto, alimenta-se da seiva que corre nos troncos dessas árvores. É também nos tocos mortos dos carvalhais que as fêmeas depositarão os seus ovos.





(continua)

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Por detrás das palavras: a cegonha-branca (3.ª parte)

 





A etapa de emancipação dos juvenis de cegonha-branca, bem como, todo o período de tempo gasto na preparação da espécie para a grande epopeia migratória que acontece no final de cada verão, foi o tema do apontamento apresentado neste espaço, intitulado "A cegonha-branca (IV)".


O vídeo apresentado enquadra toda a moldura dinâmica em que o texto assentou.

 



segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Por detrás das palavras: a cegonha-branca (2.ª parte)

 




Depois da sua chegada primaveril ao centro e norte de Portugal e após ter dado início à nidificação, a cegonha-branca entra numa nova fase: a de criar os seus filhotes até ao momento em que os mesmos se irão tornar independentes. 

Esta fase da vida das cegonhas havia sido abordada neste mesmo espaço, predominantemente em dois artigos: A cegonha-branca (II) e a cegonha-branca (III).  

O presente vídeo dedicado à espécie vem enquadrar a mensagem contida nos referidos textos.




domingo, 31 de agosto de 2025

Em boas mãos!

 




Não há dúvida nenhuma! 

O compromisso da Câmara Municipal de Ovar tem sido total. Compromisso com a cidade e com o ambiente.

Basta ver o estado actual do rio Cáster ao atravessar o Parque Urbano, bem no centro da cidade. 

Um luxo, um verdadeiro colírio para os olhos! 







A continuidade do percurso ao longo do Cáster no seu troço mais erudito, se assim se poderá designar, uma vez que vai do pólo Biblioteca/Centro de Artes até à Escola de Artes e Ofícios, mostra-nos mais do mesmo. 

Será que na biblioteca há falta de literatura técnica sobre manutenção de rios ou será antes necessário criar na escola de artes o ofício de guarda-rios?
















Seja lá qual for a razão, não se pense que todo este cenário, que obriga qualquer transeunte a parar e a questionar-se, foi arquitectado somente durante este ano. De forma alguma! 

Isto é o resultado de um trabalho aturado de vários anos de compromisso.


De compromisso com o desleixo e a falta de brio por esta cidade, afinal e apenas  sede do concelho! Será caso para se dizer que Ovar está em boas mãos?


p.s: melhor sorte teve Júlio Dinis quando por aqui passou há um século e meio atrás e conseguiu (hoje seria muito difícil...) inspirar-se no bucolismo destes lugares, para nos deixar as encantadoras Pupilas do Senhor Reitor...restam-nos, assim, essas belas recordações registadas por esse grande romancista! 


terça-feira, 29 de julho de 2025

Vida para além da morte: a floresta

 




 

A floresta é um mundo extraordinário! 

Mundo, onde um número incomensurável de viventes se escondem por entre folhas, troncos e ramos, sempre pintados por uma luminosidade coada. 



Este mundo extraordinário desenrola-se e sobrevive graças a um outro, não menos assombroso, que por ter uma existência ao nível do subsolo não está sujeito ao complexo jogo de sombras que a floresta oferece. Neste novo mundo, a escuridão é total.



Absorvendo o dióxido de carbono existente no ar, a água e os sais minerais existentes no subsolo, alguns dos inquilinos desse mundo superficial, como as árvores, crescem numa competição pela altura e pela luz solar directa, .....



.... enquanto outros, como a vegetação rasteira, estendem os seus caules na horizontal, de modo a ocuparem a maior superfície possível evitando serem sufocadas por outras espécies. 



Outros ainda, como os fungos e os líquenes,  formam associações simbióticas com espécies animais e plantas, vivendo tanto no solo como nos troncos.



A floresta é, pois, um mundo assombroso, onde esta comunidade silenciosa e de grande imobilidade, garante lar, alimento e abrigo a uma outra comunidade que prima pelo movimento e pelos sons, sejam estes sussurrantes ou clamorosos.  




A floresta vive, deste modo, de variadíssimas interacções. 

Interacções entre reinos. O vegetal, o animal e esse outro não menos mágico onde se incluem os decompositores. 

Os seres da floresta nascem, crescem, reproduzem-se, envelhecem e morrem, cumprindo, assim, o ciclo inevitável da vida e da morte. 


Só que a morte neste mundo fantástico constitui o impulso decisivo que dá lugar a novas vidas.

De facto, sempre que as células falecem e os seres vivos tombam no solo florestal, entram em jogo aqueles outros intervenientes, aqueles que integram esse terceiro reino. Um reino de seres, que de uma forma ou de outra, conseguem decompor ossos, pêlos, penas, tecidos e células. 



Tudo convertido em água, dióxido de carbono, sais minerais e energia. 

Sais minerais que dissolvidos na água entrarão de novo em circulação, permitindo a manutenção do impulso vital.

Todos estes nutrientes libertados no solo e na água serão absorvidos em primeira instância pelos produtores (plantas) e mais tarde integrados nos consumidores (animais).

Processo quase invisível mas de existência imprescindível!

  

(continua)


quinta-feira, 5 de junho de 2025

Dia Mundial do Ambiente em Ovar - Agir pelo desenvolvimento da nossa terra!

 





O concelho de Ovar precisa urgentemente de políticas de conservação e valorização do seu património ambiental.

Há que Agir de forma decidida no sentido de inverter a contínua falta de políticas ambientais assertivas.




quinta-feira, 22 de maio de 2025

Dia Internacional da Biodiversidade: que sentido tem em Ovar?

 



 

A biodiversidade de uma região traduz-se na variedade e interdependência existentes entre as espécies, os habitats e os ecossistemas que nela existem. A degradação dos habitats naturais e semi-naturais, a poluição e a exploração excessiva dos recursos enfraquece os ecossistemas e leva inevitavelmente à perda da biodiversidade. Deste modo, a biodiversidade é fundamental para o equilíbrio natural de uma dada região pois, em última instância, garante o bem-estar das suas comunidades humanas.



Estas premissas devem, assim, servir de pontos de partida para toda a acção autárquica - ainda por iniciar - de garantia da biodiversidade no concelho de Ovar.



Ovar é mar. Por isso, o ecossistema costeiro, areal, dunas, vegetação dunar e respectiva fauna devem ser acautelados através de medidas concretas, como a regular deposição de areias nas praias e no cordão dunar.




Ovar é mata. Predominantemente de pinheiro-marítimo, mas não só. Além da vegetação a mata alberga uma fauna variada e importantes comunidades de fungos e líquenes. Ademais constitui um verdadeiro pulmão para toda a região envolvente. Por isso, é imperioso que se trave esse desastroso plano, em curso, de destruição da mata concelhia. Não há argumentos decentes que justifiquem semelhante perda de biodiversidade.



Ovar é Ria. Canais, esteiros, valas, praias de vasa, caniçais, juncais abundam e asseguram uma enorme biodiversidade aquática. Dezenas de espécies aqui ocorrem, entre residentes, estivais, invernantes e migradores de passagem. Algumas com estatuto de vulnerabilidade e outras com estatuto de ameaçadas. Algumas raras, outras acidentais. É, pois, importante que se tomem medidas apertadas com vista à protecção deste ecossistema. 



Uma dessas medidas há muito proposta, mas sem nunca ter sido implementada diz respeito à delimitação de uma área protegida na ria de Ovar. A “Área de Paisagem Protegida da Foz do Cáster” visa a conservação das espécies e habitats que existem no espaço lagunar do concelho, numa óptica de desenvolvimento sustentável.



Ovar é urbe. Tem rios, parques, jardins, fontes de água. À priori, todos ao serviço da qualidade de vida e bem-estar dos ovarenses. Mas para isso ser possível os rios não podem correr poluídos, os parques e jardins têm de estar limpos de papéis, copos de plástico, latas de refrigerantes e dejectos de cães espalhados pelos relvados.



Assinalar a Biodiversidade ovarense passará sempre, hoje e amanhã, por uma educação ambiental que terá por base a adopção de uma cidadania comprometida. Só com cidadãos respeitadores do ambiente e participativos poderemos conservar os recursos que são nossos e não de outros, sejam estes negociantes oportunistas ou governantes incompetentes.

 


sexta-feira, 2 de maio de 2025

Por detrás das palavras: a cegonha-branca (1.ª parte)


 




A cegonha-branca regressou mais um ano à Europa, provinda da África tropical, para levar a cabo mais uma etapa reprodutiva. 

Contudo, alguns indivíduos já por cá se encontravam, uma vez que os mesmos não chegaram a efectuar a migração outonal do ano transacto.

A primeira fase da reprodução da cegonha-branca foi descrita neste espaço em A cegonha-branca (I)


O vídeo que agora se apresenta contextualiza o sentido das palavras que suportaram o referido texto. 






sábado, 22 de março de 2025

Dia Mundial da Água e Dia Mundial da Meteorologia

 






Assinalar estes dias evocativos de temas ambientais – como os da floresta, da árvore, do solo, do ar ou outros afins – deveria servir não para palestras de circunstância vazias de boas intenções ou para inaugurações de alguma obra recentemente concluída, mas sobretudo para repensar aquilo que ainda não está feito e aquilo que estando feito justifica correcção ou melhoria de acordo com as necessidades ambientais da actualidade.

Sendo a água a base da vida deveria ser dos primeiros recursos naturais, a ser mimado em todo o planeta e das mais variadas formas.

Sendo o mundo tão vasto e em cada um dos seus cantos existirem problemáticas específicas relacionadas com os recursos hídricos será mais razoável concentrarmo-nos no nosso cantinho e nos contributos que se poderão dar para a protecção e valorização das nossas águas.

A poupança no consumo de água, que é um apelo mundial feito a todos nós, será talvez o problema de mais rápida solução, uma vez que esse consumo está directamente relacionado com o esvaziar de cada carteira.

Mas há outras abordagens à água que não parecendo afectar cada indivíduo isoladamente, afectam, de facto, toda a comunidade vareira.

O rio Cáster e a ribeira da Sr.ª da Graça ao passarem pelo centro de Ovar, nomeadamente pelo parque urbano, têm todas as características para embelezarem a cidade e proporcionarem momentos prazerosos a quem circula junto deles … desde que as suas águas não corram oleosas, com espumas, lixos sólidos e maus odores, como às vezes acontece.



Por outro lado, estes dois cursos de água não deveriam ter os leitos entupidos de vegetação, cuja presença na época das chuvas só serve para dificultar o fluxo das águas facilitando o alagamento das margens. Essa vegetação que cresce espontaneamente no meio do leito deve ser limpa anualmente a partir do mês de Setembro, de modo a não afectar a reprodução das espécies que nela se abrigam.



Estes dois cursos de água também não precisam que se lhes cortem as árvores das margens, bem pelo contrário. O arvoredo das margens é o coração e os pulmões de qualquer galeria ripícola, contribuindo para o controlo das cheias durante o inverno.




Mas Ovar, cidade rodeada de mar salgado e ria salobra é também rica em água doce. Pelo menos deveria ter sido no passado, dada a quantidade de fontes que se construíram, algumas artisticamente decoradas e que hoje, moribundas de tanto desleixo, aguardam que a autarquia lhes preste o socorro merecido.




A Barrinha de Esmoriz, designada pelos ovarenses deste modo, é Lagoa de Paramos para os espinhenses, devido ao facto de ser pertença dos dois concelhos. Mas designações à parte, ela tem características e problemas comuns.

A sua característica principal é ser uma lagoa costeira, rodeada por uma extensa mancha de caniçal, onde várias espécies animais se reproduzem, outras invernam e outras tantas a usam como local de descanso e alimentação durante as passagens migratórias. Dito de outro modo, um importante ecossistema natural onde até ocorrem espécies acidentais provenientes do continente norte-americano.

Tal condição levou à sua integração na rede europeia Natura 2000. E o que é que daqui resultou? Que se criaram passadiços e uma ponte atravessando o coração desta área promovendo a perturbação em áreas que antes eram inacessíveis à pressão humana, desvirtuando o conceito do estatuto adquirido. É que para efeitos turísticos e de passeio/caminhada bastaria a existência do passadiço ao longo da periferia da lagoa.



Além desta concepção “ecológica” que as duas autarquias arquitectaram, as mesmas continuam a nada fazer (apesar de ao longo de décadas terem sido apresentados projectos elaborados por associações ecologistas) para que este espaço seja efectivamente uma Reserva Natural, onde as espécies que de lá se ausentaram possam encontrar condições para regressarem e por lá se fixarem.

 

O dia de hoje, Dia Mundial da Meteorologia, pretende chamar a atenção para a importância do clima nas nossas vidas e no planeta em geral. Objectivos, à priori, consensuais pese embora em certas situações haja sempre alguém que parece querer negar essa mesma certeza.

É o clima que faz tombar em poucas horas a chuva que deveria cair em meses. Chuva, que apesar de ser esperada e anunciada pelos meteorologistas e pela protecção civil, não deixa de inundar estradas e habitações, criar torrentes mortais, fazer transbordar rios e obrigar à descarga de enormes massas de água das barragens. Não há sacos de areia nem taipais que valham. O excesso de água não infiltrada no solo tem de passar, mesmo que para isso tenha que levar tudo à sua frente. No final é sempre o homem que tem de correr atrás do prejuízo.

É o clima que faz tombar impiedosamente sobre a linha de costa a água que cada vez existe em maior quantidade nos oceanos devido ao degelo e que inunda e destrói as ruas e habitações marginais. Não há muralha de pedra que valha. As vagas têm de se despenhar sobre a frente costeira, pois a sua força e energia não se dissipam milagrosamente. Para já apenas molhando, um dia com a possibilidade de a água arrastar consigo blocos rochosos. Será sempre o homem a colher aquilo que semear.




Água, clima, ……., ambiente, homem, decisões. Uma engrenagem, que cada vez mais, tem de estar bem oleada.