Assinalar estes dias evocativos
de temas ambientais – como os da floresta, da árvore, do solo, do ar ou outros
afins – deveria servir não para palestras de circunstância vazias de boas
intenções ou para inaugurações de alguma obra recentemente concluída, mas
sobretudo para repensar aquilo que ainda não está feito e aquilo que estando
feito justifica correcção ou melhoria de acordo com as necessidades ambientais
da actualidade.
Sendo a água a base da vida
deveria ser dos primeiros recursos naturais, a ser mimado em todo o planeta e
das mais variadas formas.
Sendo o mundo tão vasto e em cada
um dos seus cantos existirem problemáticas específicas relacionadas com os
recursos hídricos será mais razoável concentrarmo-nos no nosso cantinho e nos
contributos que se poderão dar para a protecção e valorização das nossas águas.
A poupança no consumo de água,
que é um apelo mundial feito a todos nós, será talvez o problema de mais rápida
solução, uma vez que esse consumo está directamente relacionado com o esvaziar
de cada carteira.
Mas há outras abordagens à água
que não parecendo afectar cada indivíduo isoladamente, afectam, de facto, toda a
comunidade vareira.
O rio Cáster e a ribeira da Sr.ª
da Graça ao passarem pelo centro de Ovar, nomeadamente pelo parque urbano, têm
todas as características para embelezarem a cidade e proporcionarem momentos prazerosos
a quem circula junto deles … desde que as suas águas não corram oleosas, com
espumas, lixos sólidos e maus odores, como às vezes acontece.
Por outro lado, estes dois cursos
de água não deveriam ter os leitos entupidos de vegetação, cuja presença na
época das chuvas só serve para dificultar o fluxo das águas facilitando o
alagamento das margens. Essa vegetação que cresce espontaneamente no meio do
leito deve ser limpa anualmente a partir do mês de Setembro, de modo a não afectar
a reprodução das espécies que nela se abrigam.
Estes dois cursos de água também
não precisam que se lhes cortem as árvores das margens, bem pelo contrário. O
arvoredo das margens é o coração e os pulmões de qualquer galeria ripícola, contribuindo
para o controlo das cheias durante o inverno.
Mas Ovar, cidade rodeada de mar salgado e ria salobra é também rica em água doce. Pelo menos deveria ter sido no passado, dada a quantidade de fontes que se construíram, algumas artisticamente decoradas e que hoje, moribundas de tanto desleixo, aguardam que a autarquia lhes preste o socorro merecido.
A Barrinha de Esmoriz, designada pelos ovarenses deste modo, é Lagoa de Paramos para os espinhenses, devido ao facto de ser pertença dos dois concelhos. Mas designações à parte, ela tem características e problemas comuns.
A sua característica principal é
ser uma lagoa costeira, rodeada por uma extensa mancha de caniçal, onde várias
espécies animais se reproduzem, outras invernam e outras tantas a usam como
local de descanso e alimentação durante as passagens migratórias. Dito de outro
modo, um importante ecossistema natural onde até ocorrem espécies acidentais
provenientes do continente norte-americano.
Tal condição levou à sua integração na rede europeia Natura 2000. E o que é que daqui resultou? Que se criaram passadiços e uma ponte atravessando o coração desta área promovendo a perturbação em áreas que antes eram inacessíveis à pressão humana, desvirtuando o conceito do estatuto adquirido. É que para efeitos turísticos e de passeio/caminhada bastaria a existência do passadiço ao longo da periferia da lagoa.
Além desta concepção “ecológica”
que as duas autarquias arquitectaram, as mesmas continuam a nada fazer (apesar
de ao longo de décadas terem sido apresentados projectos elaborados por
associações ecologistas) para que este espaço seja efectivamente uma Reserva
Natural, onde as espécies que de lá se ausentaram possam encontrar condições
para regressarem e por lá se fixarem.
O dia de hoje, Dia Mundial da
Meteorologia, pretende chamar a atenção para a importância do clima nas nossas
vidas e no planeta em geral. Objectivos, à priori, consensuais pese embora em
certas situações haja sempre alguém que parece querer negar essa mesma certeza.
É o clima que faz tombar em
poucas horas a chuva que deveria cair em meses. Chuva, que apesar de ser
esperada e anunciada pelos meteorologistas e pela protecção civil, não deixa de
inundar estradas e habitações, criar torrentes mortais, fazer transbordar rios
e obrigar à descarga de enormes massas de água das barragens. Não há sacos de
areia nem taipais que valham. O excesso de água não infiltrada no solo tem de
passar, mesmo que para isso tenha que levar tudo à sua frente. No final é sempre
o homem que tem de correr atrás do prejuízo.
É o clima que faz tombar impiedosamente sobre a linha de costa a água que cada vez existe em maior quantidade nos oceanos devido ao degelo e que inunda e destrói as ruas e habitações marginais. Não há muralha de pedra que valha. As vagas têm de se despenhar sobre a frente costeira, pois a sua força e energia não se dissipam milagrosamente. Para já apenas molhando, um dia com a possibilidade de a água arrastar consigo blocos rochosos. Será sempre o homem a colher aquilo que semear.
Água, clima, ……., ambiente, homem, decisões. Uma engrenagem, que cada vez mais, tem de estar bem oleada.