sábado, 23 de janeiro de 2010

Mais um passo para destruir as dunas litorais?

Inexplicavelmente, surgiu recentemente cerca de quilómetro e meio a sul do Furadouro, um corte muito pronunciado de acácias na orla litoral da mata.
É verdade que esta espécie arbustiva tem colonizado muito facilmente os nichos pertencentes a outras espécies da flora autóctones, nomeadamente nos espaços litorais, prejudicando a própria defesa das dunas. Este facto tem levado, em determinados pontos do país, a campanhas para a sua erradicação e consequente substituição por espécies ambientalmente compatíveis.
Se a substituição das acácias por outras espécies dunares fosse o motivo deste desbaste - efectuado bem longe dos olhares de quem nada mais vê a sul do Furadouro senão as muralhas de pedra aí levantadas, destinadas a agravarem a destruição da linha de costa - tudo estaria bem.
Acontece que, ao vislumbrar-se um trilho florestal por trás da área desbastada, torna-se previsível desde logo, que o mesmo, à semelhança de outros próximos (1), permita fazer chegar facilmente até à praia e às dunas locais (baixas mas cobertas com bastante vegetação rasteira), esses veículos todo-o-terreno que frequentemente e de forma criminosa circulam sobre a zona dunar contribuindo para a erosão da mesma.
Na verdade, as consequências da entrada de motos e outros veículos na praia por estes trilhos florestais são catastróficas. Originando a destruição das defesas naturais (cordão dunar e vegetação da praia e das dunas) facilitam posteriormente os galgamentos oceânicos.
Que tais prevaricadores, de forma consciente ou inconsciente, vindos provavelmente até de fora do concelho, sejam impedidos de destruir o património costeiro só depende de quem, no concelho, com legalidade e consciência ambiental, seja capaz de tomar medidas urgentes.
Neste sentido foram enviadas denúncias deste caso para a Câmara Municipal de Ovar e para o Serviço de Protecção da Natureza (da GNR) no sentido de ser encerrado este novo acesso à praia, de forma a impedir o aparecimento de uma nova frente de erosão.

(1) A densidade de acessos neste local é muito elevada desde há vários anos (in A Praia dos Tubarões, 2006, do autor)

(Este artigo foi publicado no Jornal "João Semana", de 01/02/10)

Sem comentários: