sexta-feira, 1 de julho de 2011

Diário da Nossa Paixão

Prólogo

"Valorizar o ambiente exige paixão. Enquanto para uns, paixão é sinónimo de conservação, para outros é sinónimo de delapidação". 


"Quando se fala do Cáster, entre a conservação e a delapidação, a haver uma terceira via, Amigos, será a do sonoro caladão" .




Diário


15.06


Nas margens do rio Cáster, a norte da rua Ferreira de Castro, é já possível observar algumas máquinas a iniciarem aquela que será uma das mais rudes destruições do património natural de Ovar. O derrube indiscriminado de toda a vegetação ribeirinha, com a finalidade de se dar início ao projecto de construção do Parque Urbano de Ovar. 




©Álvaro Reis


Perante o grave atentado ecológico que estava para acontecer tentei contactar de imediato o Presidente da Câmara Municipal de Ovar, no sentido de o alertar para as consequências da intervenção. Sem sucesso, pois segundo informações que me foram dadas do serviço da presidência, aquele estaria em reunião. Ficou, contudo, prometido que logo que o autarca acabasse a reunião contactar-me-ia. Não o fez.



16.06

No final da manhã, o atentado ambiental já estava consumado! Uma extensa área, antes verde, agora de cor terrosa, não permitia quaisquer dúvidas: estava em curso uma iniciativa de impactes ambientais desmesurados em pleno centro da cidade.


©Álvaro Reis
©Álvaro Reis
©Álvaro Reis


17.06

Durante este dia continuaram as "limpezas" dos terrenos, entre a ponte da rua Ferreira de Castro e a ponte dos Pelames. 

©Álvaro Reis
©Álvaro Reis
©Álvaro Reis
©Álvaro Reis


20.06

Após o repouso do fim-de-semana, a maquinaria voltou ao serviço, desbastando a vegetação nas proximidades dos Pelames.

©Álvaro Reis

São 12h30m. Finalmente, 4 dias após a minha tentativa de contacto, sou contactado telefonicamente por um técnico da Câmara Municipal de Ovar. Após a minha exposição dos factos, o referido técnico declarou três ideias dignas de serem retidas:

Primeira ideia: nunca tinha passado pela cabeça de ninguém, na Câmara, o impacte ambiental  que este tipo de iniciativa iria causar, até porque todo o processo estava a ser controlado por um eminente professor universitário.


Comentário: com professor ou sem ele, a verdade é uma só. Naquele corredor de árvores e arbustos que foram derrubados, muitas espécies foram afectadas em pleno período de reprodução. Talvez, se, em vez de uma cabeça a pensar (mesmo sendo a de um eminente professor) tivessem estado duas ou três, as decisões fossem bem mais acertadas!


Segunda ideia: uma vez que o mal estava feito já não valia a pena parar com o trabalho das máquinas, até porque a hipótese de esperar mais um mês (segundo a minha sugestão) implicaria ter que pagar ao empreiteiro todo esse tempo de paragem (!!??). 


Comentário: Será que aquela autarquia não conhece o significado do conceito "renegociação"? Fala-se hoje tanto dele!

Terceira ideia: o arranque da obra do Parque Urbano teria que ser mesmo agora, caso contrário perder-se-ia uma parte do financiamento do projecto.


Comentário: depois de tantos anos à espera tiveram tempo mais do que suficiente para se prepararem para o arranque da obra. Se havia assim tanta urgência deviam ter começado mais cedo com a obra, numa época anterior ao período de cria. 


Diz ele (o técnico camarário): não estávamos sensibilizados para essa questão. Mas o senhor eng.º (referia-se a mim) é que nos podia ter avisado! 


Disse-lhe eu: Como assim? Eu bem tento alertar a Câmara (e olhe que não foi só desta vez!!!!), mas o problema é que os senhores não me querem ouvir!!

Após longos minutos de conversa o responsável camarário prometeu fazer chegar ao Presidente da autarquia as minhas preocupações e os meus argumentos.



Mas, neste mesmo dia, ao fim da tarde, podia-se observar que as obras não só não tinham parado como continuavam a bom ritmo, agora para lá da Rua dos Pelames!

©Álvaro Reis
©Álvaro Reis
©Álvaro Reis

Grande atenção deu na verdade o sr. Presidente da Câmara às preocupações que lhe foram dirigidas horas antes!


21.06

Os abates indiscriminados, não só de arbustos mas também de árvores, continuam a norte da ponte dos Pelames, numa outra área riquíssima em vida animal.

©Álvaro Reis

Uma verdadeira barbaridade ....


©Álvaro Reis
©Álvaro Reis
©Álvaro Reis


24.06

Somente desolação ....

©Álvaro Reis

Até os patos que criam no rio só têm sossego quando as máquinas estão paradas ....

©Álvaro Reis

2011 é o Ano Internacional das Florestas, mas não seguramente para esta classe dirigente de Ovar .....



©Álvaro Reis


26.06

Continuando esta cruzada de destruição da vegetação ribeirinha, a mesma chegou já à ponte sobre o rio Cáster no início da Rua Dr. José Falcão.

©Álvaro Reis





28.06

Após a muita destruição iniciam-se agora as acções de terraplanagem das margens .... 

©Álvaro Reis
©Álvaro Reis
©Álvaro Reis
©Álvaro Reis
©Álvaro Reis

 A quantidade de madeira morta é tanta .....

©Álvaro Reis

que as operações de destroçamento e limpeza não se fazem esperar .....

©Álvaro Reis



Uma rede é colocada no curso do rio .... 

©Álvaro Reis


29.06

Continuando a apagar as marcas da destruição .... dando um jeito nas margens...

©Álvaro Reis




enquanto toneladas de madeira derrubada são levadas em camiões .....





©Álvaro Reis

 ©Álvaro Reis

 Lá mais ao longe anda fogo....aqui não andou mas parece mesmo....


 ©Álvaro Reis


E assim se cumpriram as duas primeiras semanas do resto deste projecto ... para já vergonhoso. 


Nota final

Este não é o único. Há mais atentados pensados para o Cáster. Que se encontram "quietos e calados". Mas existem. 


Fora deste projecto do Parque Urbano mas ao abrigo do POLIS Ria de Aveiro, preparam-se para destruir a natureza na foz do rio Cáster (zona da Ribeira de Ovar) para mais um projecto ambientalmente INSUSTENTAVEL! 


Em Ovar a natureza está em perigo! 

3 comentários:

OLima disse...

Olá Álvaro, é uma pena realmente isso estar a ser feito dessa maneira. Vou fazer referência no Ondas3. Já agora, já pensaste em postar este problema no mural da ministra do Ambiente? http://www.facebook.com/assuncaocristas

Anónimo disse...

Chamar de eminente professor a uma pessoa que, supostamente, supervisiona esta barbaridade é ofender os professores universitários na sua globalidade. Não é um canudo que dá inteligência, mas sim os actos que esse canudo pode proporcionar. E neste particular o canudo serviu somente para assinar um atentado ao ambiente sob a cumplicidade da CMO.

Álvaro Reis disse...

Concordo plenamente. Infelizmente este tipo de autarcas e seus acessores/consultores, por muitos méritos que para si requisitem e por muito marketing que façam sobre as suas "obras", passarão à história local como gente inconsciente que nunca soube o que é gerir o património territorial do concelho.