quarta-feira, 15 de junho de 2011

Polis Litoral Ria de Aveiro - coerente ou irresponsável?

Em mais um 5 de Junho (Dia Mundial do Ambiente) soube-se pela  presidente do Conselho de Administração do Polis Litoral Ria de Aveiro que "o Polis da Ria não pode parar" até porque "o futuro não é só hoje mas também amanhã". 

Teresa Fidélis referiu ainda que "o Polis não vem resolver todos os problemas (na gestão da Ria) mas permite dar um contributo inquestionável para a sua valorização". De salientar a intenção da sociedade Polis estar pronta para implantar no terreno as 150 acções constantes no Plano Estratégico.

Entre os projectos anunciados destacam-se claramente dois deles, como urgentes e decididamente positivos, pelos benefícios que trazem para a valorização dos ecossistemas lagunares:

- a dragagem prevista para os canais principais da Ria (Ovar, Murtosa, Ílhavo e Mira);

- o reforço das margens da ria, com a recuperação das motas degradadas.

Claramente urgente mas enfermando de uma enorme limitação, pois deveria ser alargado a toda a zona litoral do concelho de Ovar, é o projecto de reforço do cordão dunar entre a Costa Nova e Mira.

Mas se estas acções não trazem preocupações quanto a possíveis impactes ambientais negativos, o mesmo não se poderá dizer relativamente ao projecto de desenvolvimento das vias cicláveis, contemplando as vertentes do desporto, lazer e turismo.

Senão vejamos dois casos concretos:

Primeiro caso: Campos de Salreu/Canelas (Baixo-Vouga Lagunar)

Estamos nos anos 70 e princípios de 80. Esta zona era, então, pouco frequentada, quase desconhecida da generalidade das pessoas, percorrida apenas por agricultores locais e caçadores. À Ria de Aveiro apenas se associava a ideia de poluição das suas águas e os maus cheiros da celulose. Quando a essa data iniciei os primeiros estudos sobre a biodiversidade local, toda esta região apresentava uma biodiversidade elevada, com populações importantes (no contexto nacional) para algumas espécies. Por esse facto, estas mesmas espécies serviriam como importantes bioindicadores (casos da garça-vermelha e da águia-sapeira). Já nessa data defendia que qualquer intervenção local deveria saber valorizar e proteger a zona e nunca promover o retrocesso da sua biodiversidade.


Actualmente e após a implantação do projecto Bioria (promotor de um aumento da pressão humana na área), ambas as espécies diminuíram os seus efectivos. 


Conclui-se, assim, que este projecto tem mais aspectos negativos (que urge corrigir!) do que positivos.




Segundo caso: Reordenamento e requalificação da Foz do Rio Cáster (Ovar)

                       Sobre este projecto veja-se o link




Conclusão: a falta de um debate aberto sobre o Polis Ria de Aveiro (prometido a 10 de Novembro de 2010, em Ovar, como estando previsto para breve) e o conhecimento de algumas das acções a desenvolver, deixam muitas dúvidas acerca da coerência e oportunidade das mesmas, bem como da importância do próprio Polis como instrumento de valorização ambiental.







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