sexta-feira, 21 de junho de 2024

Degelo glaciar: cegueira ou idiotice?

 





(continuação)


Face ao constatado nos apontamentos anteriores - a actual fusão das massas geladas do Árctico, Antárctida e montanhas continentais, acelerada pelas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) - não é difícil compreender que o nível médio dos oceanos suba a um ritmo muito superior ao verificado nos últimos 10 000 anos, ou seja, durante todo o período pós-última glaciação. 

Isto significará que, de ora a vante, milhões de pessoas em todo o mundo, vivendo em áreas próximas da faixa litoral, estarão em risco de sobrevivência, tendo obrigatoriamente que abandonar as suas habitações.



Se a subida anual do nível médio das águas do mar se fazia sentir, desde o final do século XIX até meados do século XX, a um ritmo milimétrico, actualmente faz-se já a um nível centimétrico. Esta escala de medição poderá parecer insignificante, mas não é, de facto!


Para Ovar, as provas conclusivas desta subida do nível do mar ficaram bem definidas, com os valores de taxas de recuo da linha de costa calculados em 1998/1999 (1), produzidos pela ocorrência de galgamentos oceânicos, cada vez mais frequentes e intensos.




Apesar do comportamento invasivo do oceano sobre terra firme ser uma realidade ameaçadora para as gentes, floresta e palheiros das praias do concelho de Ovar (anos 60 até ao presente), a situação foi sendo sempre menosprezada pelas entidades responsáveis.

Como já se assinalou, a falta de areias nas águas oceânicas (deriva litoral) era, então, o principal factor da erosão costeira. Por tal facto, o edifício dunar e respectiva biodiversidade foram desaparecendo gradualmente, sem que a autarquia valorizasse essas perdas nem tão pouco procedesse à reconstrução daquele cordão. 



Foi preciso pôr em prática, em 1997, após aprovação da Direcção Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais do Centro, o "Plano de Recuperação das Dunas de Esmoriz", de iniciativa particular, ...



... e quase uma década depois ter sido publicado "A Praia dos Tubarões" (2), onde se defendia a alimentação arenosa das praias, para haver uma viragem na abordagem à defesa da costa ao nível ministerial.

Mudança demasiado tardia, contudo!


Ora, a somar ao défice de areia existente nas praias, as últimas duas décadas trouxeram um problema acrescido. O fenómeno do Aquecimento Global, que se tem vindo a abordar. E este é e vai continuar a ser incontrolável durante muitos anos, pelo que, o mar irá continuar a avançar sobre a faixa costeira ... e muito!

Daí que todos os licenciamentos para novas construções na frente litoral do concelho, efectuados nos últimos 50 anos, constituem permissões totalmente reprováveis face à realidade existente. 



Terá sido, esta má gestão de ordenamento da zona marítima, um caso de cegueira ou de idiotice?


(continua)


(1) Reis, A. 2000. Avaliação da erosão costeira entre as praias de S. Pedro de Maceda e do Torrão do Lameiro (Ovar). Dissertação de Mestrado. Universidade de Aveiro.

(2) Reis, A. 2006. A Praia dos Tubarões



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