(continuação)
O equinócio, chegou entretanto.
A temperatura subiu bastante e com ela o ardor da criação. Os parques citadinos são por esta época um verdadeiro palco de aves cantoras, como já se havia constatado.
De facto, as espécies que mais se fazem ouvir, embora de menores dimensões, são capazes de produzir chamamentos muito mais insistentes e regulares.
Cada executante, ao cantar em longos trinados, faz com que a orquestra no seu conjunto produza uma sonoridade contínua no tempo. Isto é sobretudo significativo no despertar da manhã, quando os ruídos da cidade ainda mal ecoam nos ares e as aves acordam com energias redobradas.
Tal como acontece em qualquer festival de música há sempre um palco principal, onde actuam os cabeças de cartaz. Pois, no parque é igual.
Vamos até lá, para conhecer esses artistas vocais.
Comecemos por um dos primeiros que ousou aparecer. O verdilhão (Chloris chloris), com seu canto enrolado e persistente, não passa despercebido nos altos ramos, apesar de procurar dissimular-se entre as ramagens.
Outro cantor, exímio em trinados ininterruptos, é o atraente chamariz (Serinus serinus). E, por esta razão, ele tem sempre garantida a presença neste palco principal.
E também, como se viu com a espécie anterior, macho e fêmea já andam juntos. Afinal de contas, a criação está em marcha para todas as aves.
Pelo palco principal do parque também passam os chapins.
Com um chamamento e um padrão de plumagem únicos, o chapim-real (Parus major) é uma ave encantadora quando, lá bem no alto, se expõe em animadas cantorias.
Se os chapins-reais encantam, os seus parentes chapins-azuis (Cyanistes caeruleus) não lhes ficam atrás, pela suave coloração que apresentam na cabeça, faces e peito.
Embora se demorem pouco, pois como é apanágio destas pequenas aves, a quietude é coisa que não lhes assiste, os machos deixam no ar algumas sequências de notas pouco intensas mas suficientemente agudas, enquanto as fêmeas se dedicam a acumular reservas de energia para o desgastante período da nidificação.
Tal como os chapins, também a toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla) surge por fugazes momentos neste palco principal. Sobretudo as fêmeas vêm à procura dos pequenos insectos e invertebrados que pululam por entre as ramagens, bem como, de material orgânico para a construção dos ninhos.
Tem sido assim, neste palco de cantores de luxo, que o equinócio da Primavera se tem revelado.
Contudo, as súbitas alterações do clima, que não param de acontecer, apanharam de surpresa toda esta avifauna selvagem, já em plena actividade reprodutora!
Chuva, sob a forma de intensos aguaceiros, ...
... vento, soprando em rajadas fortes, ...
... e frio, provocado por uma queda acentuada nos valores da temperatura do ar, ...
... estão a constituir um importante teste às capacidades de adaptação destas pequenas e bonitas aves cantoras.
Apesar da depressão atmosférica estar instalada, a nidificação é para acontecer. Contudo, e para já, o palco principal está vazio!
2 comentários:
Um verdadeiro festival da canção. A ver se suportam estas intempéries.
As espécies acabam por se adaptarem ...
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