sexta-feira, 28 de junho de 2024

Flora dunar

 





A flora dunar constitui um tipo de vegetação sujeita a condições extremas do clima, como sejam a acção dos ventos e a insulação, do teor de salinidade das areias e do seu soterramento, entre outros.

Além destes factores, de ordem natural, a vegetação das praias e dunas está sujeita ao pisoteio, produzido por homens e máquinas, sendo cada vez mais raros os sectores litorais com uma distribuição equilibrada da sua flora.

Por todas estas razões e pelo aumento da intensidade dos galgamentos oceânicos, consequência dos efeitos do aquecimento planetário, as comunidades vegetais das praias arenosas são parcas em número de espécies.

Vale a pena, por isso, apreciar a singeleza desta flora, fundamental, ademais, na saúde e estabilidade de todo o ecossistema dunar.



sexta-feira, 21 de junho de 2024

Degelo glaciar: cegueira ou idiotice?

 





(continuação)


Face ao constatado nos apontamentos anteriores - a actual fusão das massas geladas do Árctico, Antárctida e montanhas continentais, acelerada pelas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) - não é difícil compreender que o nível médio dos oceanos suba a um ritmo muito superior ao verificado nos últimos 10 000 anos, ou seja, durante todo o período pós-última glaciação. 

Isto significará que, de ora a vante, milhões de pessoas em todo o mundo, vivendo em áreas próximas da faixa litoral, estarão em risco de sobrevivência, tendo obrigatoriamente que abandonar as suas habitações.



Se a subida anual do nível médio das águas do mar se fazia sentir, desde o final do século XIX até meados do século XX, a um ritmo milimétrico, actualmente faz-se já a um nível centimétrico. Esta escala de medição poderá parecer insignificante, mas não é, de facto!


Para Ovar, as provas conclusivas desta subida do nível do mar ficaram bem definidas, com os valores de taxas de recuo da linha de costa calculados em 1998/1999 (1), produzidos pela ocorrência de galgamentos oceânicos, cada vez mais frequentes e intensos.




Apesar do comportamento invasivo do oceano sobre terra firme ser uma realidade ameaçadora para as gentes, floresta e palheiros das praias do concelho de Ovar (anos 60 até ao presente), a situação foi sendo sempre menosprezada pelas entidades responsáveis.

Como já se assinalou, a falta de areias nas águas oceânicas (deriva litoral) era, então, o principal factor da erosão costeira. Por tal facto, o edifício dunar e respectiva biodiversidade foram desaparecendo gradualmente, sem que a autarquia valorizasse essas perdas nem tão pouco procedesse à reconstrução daquele cordão. 



Foi preciso pôr em prática, em 1997, após aprovação da Direcção Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais do Centro, o "Plano de Recuperação das Dunas de Esmoriz", de iniciativa particular, ...



... e quase uma década depois ter sido publicado "A Praia dos Tubarões" (2), onde se defendia a alimentação arenosa das praias, para haver uma viragem na abordagem à defesa da costa ao nível ministerial.

Mudança demasiado tardia, contudo!


Ora, a somar ao défice de areia existente nas praias, as últimas duas décadas trouxeram um problema acrescido. O fenómeno do Aquecimento Global, que se tem vindo a abordar. E este é e vai continuar a ser incontrolável durante muitos anos, pelo que, o mar irá continuar a avançar sobre a faixa costeira ... e muito!

Daí que todos os licenciamentos para novas construções na frente litoral do concelho, efectuados nos últimos 50 anos, constituem permissões totalmente reprováveis face à realidade existente. 



Terá sido, esta má gestão de ordenamento da zona marítima, um caso de cegueira ou de idiotice?


(continua)


(1) Reis, A. 2000. Avaliação da erosão costeira entre as praias de S. Pedro de Maceda e do Torrão do Lameiro (Ovar). Dissertação de Mestrado. Universidade de Aveiro.

(2) Reis, A. 2006. A Praia dos Tubarões



sexta-feira, 14 de junho de 2024

A garça-boieira (III)

 





(continuação)


Maio é o mês primaveril da cor. Já os Celtas, assim, o celebravam e hoje em dia, assim, o sentimos. A natureza em Maio seguiu, pois, radiante. 

marisma, também ela, não escapou a este figurino. Ao longo das bermas dos caminhos que a sulcam, foram múltiplas as atraentes plantas ruderais, que se iam destacando.


Amoras-silvestres (Rubus ulmifolius), ...




 ... dentes-de-leão (Taraxacum ekmanii), ...



... papoilas (Papaver dubium), ...



... entre várias outras espécies, quebravam o padrão uniforme destas zonas húmidas. 


Ademais, a volumosa gritaria proveniente da colónia das garças parecia intensificar o colorido do ecossistema. 


E Maio foi avançando.


Na colónia, a elevada densidade de ninhos, todos eles ocupados com progenitores e crias, numa agitação imparável, constituíram até ao presente, um cenário delicioso para os olhos.

Vêem-se os filhotes das garças-boieiras (Bubulcus ibis) ensaiando as primeiras saídas do ninho, posicionando-se nas ramagens próximas do mesmo, em grande algazarra ... 



... sendo comum, observarem-se rixas entre eles, nas quais a esgrima de bicos é uma constante. 



O facto da cor escura do bico não demorar muito tempo a clarear permite perceber a idade das crias, que foram rompendo os ovos a compasso.



A época de criação avançou muito no tempo. Vamos nas seis semanas sobre a eclosão do primeiro ovo.

Os filhotes de garça-boieira começam a efectuar os seus primeiros voos, cujo destino final será sempre o regresso ao ninho, dada a dependência que as crias ainda têm dos seus progenitores. Só pelos dois meses de vida é que se tornarão totalmente independentes dos pais, abandonando definitivamente o berço.


Até lá, a Primavera vai progredindo rapidamente para o fim. 


(continua)


sexta-feira, 7 de junho de 2024

A cegonha-branca (III)

 




(continuação)


A Primavera segue adiantada e plena de transformações! 

Os campos e prados começam, por esta altura do ano, a evidenciar os primeiros sinais da idade. Outrora, de tons verdes vivos, apresentam agora tons verdes acastanhados.



A colorida floração que neles existiu, que exalou aromas assilvestrados dia e noite e que pintou Março e Abril de uma jovialidade estonteante, está cada vez mais abrasada, tombando murcha dos caules, também eles amarelecidos e frouxos.



Apesar do desgaste sentido, é por estes campos que se esconde uma fauna, diminuta em porte, mas grande em número de exemplares. 



As zonas húmidas, que se estendem a perder de vista para lá da raia destes campos - onde o milho há-de vir a ser rei - fervilham igualmente de vida, também ela escondida entre os longos caules das talófitas e as águas turvas dos charcos.




Tem sido por estes habitats que a cegonha-branca (Ciconia ciconia) tem vagueado ao longo destes últimos meses, para conseguir obter o alimento necessário à providência de toda a família, que cada vez se revela mais exigente em número de presas diárias. 


Rãs, lagartos, crustáceos, peixes, insectos, micromamíferos, pequenas aves, entre outras presas, constituem o eclético menu da cegonha-branca.



O ar primaveril das manhãs, já se sente aquecido, pois o Sol levanta-se cada vez mais cedo e cada vez com maior ardor.

Desde as primeiras horas do dia, andorinhas-das-chaminés (Hirundo rustica) riscam o ar a grande velocidade, perseguindo os desprevenidos insectos voadores. 



Também do ar, chegam os incessantes chamamentos da pequena fuínha-dos-juncos (Cisticola juncidis), difícil de ser localizada contra o azul desmaiado do céu, mas, impressionantemente bela quando decide poisar nos silvados próximos.



Lá no alto do firmamento, algumas cegonhas-brancas evoluem em amplas trajectórias circulares, tirando partido das correntes térmicas formadas a esta hora do dia. Planadoras exímias, parecem despreocupadas nas suas andaduras, usufruindo simplesmente das vistas!



Pelo contrário, cá mais por baixo, os mesmos actores participam de um cenário algo diferente. Qualquer que seja o azimute traçado pelo olhar, o céu revelará uma cegonha em voo rápido e directo, frequentemente a transportar galhos ou ramos para a manutenção dos ninhos, entretanto escangalhados pela agitação própria dos juvenis. 



(continua)